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terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Último Baile da Ilha Fiscal.




E há 120 anos atrás...

O último e maior baile da realeza brasileira– 09/11/1889

Local :ILHA FISCAL

D.Pedro II vendo o projeto original da Ilha Fiscal fica decepcionado e exclama: “Este é delicado estojo, digno de uma brilhante jóia” ... Em função disto o projeto é refeito e estruturado em estilo gótico, seguindo os moldes de um típico castelo do século XIV, em Auverne, sul da França, pelo engenheiro responsável, Adolpho José Del Vecchio
A construção do castelo levou 7,5 anos e foi feita por portugueses e escravos, sendo finalizado em 1889, juntamente com a urbanização da ilha. A construção foi executada com extrema qualidade e os profissionais que trabalharam, cada um em seu ofício, merecem destaque:
O raro relógio de quatro faces no torreão, de mais de 100 anos, foi instalado pela firma Krussmann e Cia, funcionando através de corda, que é dada 2 vezes por semana. A pintura decorativa na parede é de Frederico Steckel e as agulhas fundidas foram feitas por Manuel Joaquim Moreira e Cia.
Moreira de Carvalho se encarregou dos mosaicos do piso do torreão, um trabalho primoroso feito com mais de 15 tipos de madeira.
O trabalho em cantaria é de AntonioTeixeira Ruiz O brasão imperial foi feito por um escravo artesão que ficou cego logo após terminar a obra. Atentar para o estilo empregado nos para-raios.



Na revolta da Armada em 1893 a Ilha Fiscal foi bastante danificada por projéteis que atingiram suas paredes, além de danificarem os vitrais e os móveis. O projeto museográfico de recuperação envolveu diversas ambientações, remontando ao século XIX, onde foram utilizadas réplicas de mobiliário (confeccionado em São João del Rei), tapetes de arraiolo (provenientes de Diamantina), e lustre proveniente do Rio de Janeiro. Na saída, o visitante pode observar um lustre do século XIX, original, confeccionado em bronze e opalinas brancas.
Os vitrais importados da Inglaterra foram duramente atingidos durante a revolta da armada obrigando a uma grande restauração quando o castelo passou para as mãos da Marinha.
Visitar a Ilha Fiscal na cidade do Rio de Janeiro - RJ é voltar no tempo e ficar “sonhando” como teria sido o último baile da corte de D.Pedro II naquele sábado: nove de novembro de 1889 (6 dias antes da queda do império). . Será que com um pouco de criatividade poderíamos recriar para os dias de hoje uma reportagem histórica com a equipe que preparou e realizou a maior festa realizada pelo império brasileiro, a pedido do Visconde de Ouro Preto?

Objetivo do baile

Oficialmente seria homenagear o comandante Banen do navio chileno Almirante Cochrane em retribuição a igual colhida em tempos anteriores.

Na realidade as finalidades seriam:

Confirmação das Bodas de Prata da Princesa Isabel e do Conde D´Eu que já tinha ocorrido em 15/10/1889

Fortalecimento da monarquia que já “sentia” os ventos republicanos.

O real objetivo do evento, que funcionou às avessas, era tentar revigorar a imagem do império na opinião pública e sensibilizar a nobreza empobrecida pela abolição da escravatura para uma causa já praticamente perdida: a preservação da Monarquia.

Na parte superior do castelo, após subir uma escada em caracol com 38 degraus e revestida em cantaria podemos vislumbrar a sala onde foi realizada a troca de bandeiras entre Chile e Brasil. A sala é ricamente ornada com vitrais ingleses, que retratam de um lado D. Pedro II e, do outro, a Princesa Isabel, ladeados por brasões, além do belíssimo piso, confeccionado em parquet.

Recursos financeiros

A festa custou em torno de 250 contos de réis, quase 10% do orçamento previsto para a província do RJ naquele ano. Dizem as “más línguas”, que este dinheiro estava destinado ao auxílio de vítimas da seca no Ceará.

Mudança imprevista na data. A data original para este baile seria 19 de outubro. Devido à doença Luís I, rei de Portugal e sobrinho de D. Pedro II e seu eventual falecimento, a data foi alterada para 09/11/1889, ou seja para depois dos funerais.

Convidados e Convites

Os números não são absolutos, mas estima-se entre 4.500 e 5000 pessoas incluindo a família imperial e os 300 tripulantes do cruzador chileno Almirante Cochrane . A alta sociedade prestigiou maciçamente esta festa.

Trajes e Roupas

O guarda-roupa da imperatriz Tereza Cristina não chegou a causar impressão especial – trajava um vestido de renda de chantilly preta e guarnecido de vidrilhos. Já o traje da princesa Isabel , no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpete alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes. D. Pedro II trajava um uniforme de almirante.
Réplicas, expostas na Ilha Fiscal, dos trajes típicos utilizados naquele baile As roupas das mulheres foram adquiridas nas lojas sofisticadas da Rua do Ouvidor, no centro do Rio. Os cabelos, penteados por cabelereiros franceses da Casa A Dama Elegante, no mesmo endereço. Já os homens abusavam das brilhantinas inglesas da Fritz Marck and Co. nos cabelos e nos bigodes.
O colunista Desmoulins, do Correio do Povo citou o mau gosto a que se entregaram muitos dos convidados. Criticou ainda os homens que, no salão, mantinham seus chapéus ingleses do Wellicamp e do Palais Royal enfiados na cabeça. Frasco de perfume Peças originais de época.

Música e Animação no porto

O baile estava marcado para as 20h30, mas desde cedo uma multidão se acotovelava em volta do Cais Pharoux, que dá acesso à ilha, e nas ruas próximas para ver chegarem os convidados. A impressão que se tinha era que boa parte dos 500 000 habitantes que contava o Rio de Janeiro naquela época estava lá. . Uma das seis bandas contratadas para a festa animava o povo que prestigiava o evento vaiando ou aplaudindo os convidados.

Embarque e transporte dos convidados

Fotos do local do embarque em torno do ano de 1880 . A suntuosidade da festa começava ainda na ponte flutuante montada junto ao cais para o embarque, ornamentada com seis grandes arcos e dois candelabros de gás. Os convidados embarcavam em 03 barcaças a vapor que saíam do cais Pharoux, na atual praça XV de Novembro, centro do RJ. Da ponte, os convivas eram levados até a ilha pela barca Primeira , coberta de tapetes luxuosos e ornamentada com as bandeiras brasileira e chilena.
Ao contrário do que se poderia imaginar a galeota, que sempre foi utilizada pela família imperial nos seus passeios pela baía da Guanabara, não foi utilizada aquela noite. Esta embarcação com 24 metros de comprimento para 11 remadores em cada bordo, levando na popa uma cabine forrada de veludo para a família Imperial, foi construída em Salvador, em 1808, por ocasião da vinda da Família Real portuguesa para o Brasil e trazida para o Rio em 1809.

Recepção e cerimonial na ilha

Devido a debilidade de D. Pedro II, que sofria de diabetes, a recepção dos convidados não foi realizada pela família imperial que chegou ao local em torno das 21-22 horas. O quadro “O último baile da Ilha Fiscal” de Francisco Aurélio de Figueiredo retrata esta recepção. Uma cópia do quadro, feita por Robson G. está exposta na Ilha Fiscal, já o original se encontra no Museu Histórico Nacional – MHN.

Iluminação e som

O Palácio da Ilha Fiscal tinha uma iluminação feita com 700 lâmpadas elétricas. No alto da torre, um holofote produzia um foco de 60 000 velas, mais da metade da força projetada pela iluminação da Torre Eiffel. Milhares de velas, lanternas venezianas utilizadas na decoração e holofotes do couraçado Almirante Cochrane e outros navios da marinha ancorados por ali complementavam a iluminação .

Decoração

Foram armadas duas mesas em forma de ferradura, para 250 talheres cada uma. Nas cabeceiras das mesas, dois enormes pavões empalhados estendiam as caudas multicoloridas. Havia enormes castelos de açúcar, em cujos torreões foram colocados bombons. À frente de cada prato havia nove copos de formatos diferentes, três brancos e seis coloridos.

Banquete e Carta de vinhos

O jornal “Gazeta de Notícias” publicou também uma descrição detalhada da ceia, anunciada em um menu de 12 páginas, guarnecido com as cores das bandeiras brasileira e do Chile: "nada menos que 11 pratos quentes, 15 pratos frios,12 tipos de sobremesas, 4 qualidades de champagne, 23 espécies de vinhos e 6 de licores, num total de 304 caixas destas bebidas e mais dez mil litros de cerveja. Os números da maior comilança de que o país tem notícia relacionam para o preparo de todas essas receitas, o consumo de nada menos que 18 pavões, 25 cabeças de porco, 64 faisões, 300 peças de presunto, 500 perus, 800 quilos de camarão, 800 latas de trufas, 1200 latas de aspargos, 1300 galinhas, além de 50 tipos de saladas com maionese, 2900 pratos de doces variados, 12 mil taças de sorvete, 18 mil frutas e 20 mil sanduíches".

E o cronista dedicou um espaço especial para as bebidas: "10 mil litros de cerveja além das 304 caixas de bebidas variadas, 258 eram de vinhos e champagnes. Ou seja: naquela noite, foram consumidas 3.096 garrafas desses maravilhosos fermentados, que compunham uma bateria de 39 rótulos diferentes, com destaque para Porto de 1834 - uma safra preciosíssima - Madeira, Tokay, Château D’Yquem, Château Lafite, Château Leoville, Château Beycheville, Château Pontet-Canet e Margaux. A presença marcante do italiano Falerno, nas versões branco e tinto, era uma deferência à imperatriz. Os champagnes não podiam ser melhores: Cristal de Louis Roederer, Veuve Cliquot Ponsardin e Heidsieck. Dentre os vinhos alemães, destacavam-se o Liebfraumilch e o famoso Johannisberg do Reno".

CAIU A MONARQUIA

A repercussão do baile não seguiu os caminhos imaginados pelos promotores: naquela mesma noite, militares republicanos estavam reunidos com Benjamin Constant Botelho de Magalhães, líder positivista, para decidir a data da proclamação da República.

Desde a abolição da escravatura - assinada pela Princesa Isabel no ano anterior - os interesses dos senhores de escravos, últimos aliados de D.Pedro II e base de sustentação do governo ficaram muito abalados.

Começavam a chegar os primeiros imigrantes para substituir a mão de obra negra.

Seis dias mais tarde, ainda sob os efeitos da ressaca do baile, foi proclamada a República.

Com muita dignidade e nobreza e sem nenhuma queixa, D. Pedro II, sua família e os amigos mais chegados deixaram o Brasil, em 17 de novembro de 1889 – sete dias após o término do baile que entraria para a história.

Assim terminou, de modo ao mesmo tempo melancólico e magnificente, a última monarquia do continente americano.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, mais parece que as idéias de algumas pessoas não chegavam para o progresso do país, em vez de apoiar a monarquia , eles preferiam naquele mesmo dia fazer uma reunião contra a monarquia.
    E não deixaram de fazer alguns comentários contra os membros da família Imperial.

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