Eunice Paiva: Realidade e ficção - Arquivo pessoal e Divulgação/Globoplay
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quarta-feira, 7 de outubro de 2009
O Trivial Gastronômico brasileiro.
Ontem(07/10/09), encontrei minha esposa em seu local de trabalho e fomos almoçar. Ao chegarmos ao restaurante, tivemos a grata surpresa de encontrar algumas amigas da mesma e prontamente almoçamos. Ao término, as acompanhei até um certo pedaço do caminho e agradeci a amiga Lucélia Flores, que também é históriadora a sua visita a este humilde blog, cobrando apenas que a mesma não solicitou nenhuma receita. A companheira citou que não é muito voltada à comidas sofisticadas e sim a favor do trivial brasileiro: Feijão, arroz e ovo. Eu cá com meus pensamentos, ah, isso dá uma história. Bem mesmo não tendo sido solicitado, deixo aqui a história dessa maravilhosa combinação que até hoje causa dúvidas e suscita várias opiniões, a história do Feijão com o Arroz.
A origem do feijão é americana. Há duas hipóteses. Ele teria surgido 7 mil anos antes da era cristã, no México; ou ainda 3 mil anos antes disso, no Peru. Na Grécia e no Egito antigo, o feijão era cultivado como símbolo da vida. Os romanos antigos o usavam nas festas gastronômicas e até para pagar apostas. As ruínas de Tróia revelam evidências de que o feijão era o prato favorito dos guerreiros. E tudo indica que as guerras foram as principais responsáveis por sua disseminação.
No Brasil, já existia feijão antes da chegada dos portugueses, mas os índios não morriam de amores por essa leguminosa. Os negros escravizados também não. Como os portugueses gostavam mais de favas, supõe-se que foi o brasileiro que se tornou o grande consumidor de feijão. E por um simples motivo – além de nutritivo, o plantio é fácil e rápido. O feijão foi importante durante todo o Brasil colonial e imperial. A partir do século 17, tornou-se a força promotora de energia e passou a fazer parte de toda refeição.
E o arroz? O cereal pode ter surgido surgiu 2 mil anos antes da era cristã, na Indochina. Ou em berço africano, no Vale do Níger, ao redor de 1000 a.C, como descreve o historiador Henrique Carneiro: “Era uma gramínea de solo seco e foi a ação humana que a adaptou artificialmente, após 2 mil anos de cultivo, como uma planta semi-aquática. O arrozal aquático foi uma imensa conquista, desenvolvida na China entre o quinto e o primeiro séculos anteriores à era cristã, e que permitiu a ampliação da produção a ponto de transformá-lo na cultura de mais alta rentabilidade por hectare até a época moderna”, relata. O cereal foi usado não só para alimentação. As variedades especiais eram usadas como oferendas em cerimônias religiosas na Índia. Mas o árabe foi o grande responsável por sua disseminação.
Nas Américas, ele chegou com os espanhóis. Não se sabe ao certo se no Brasil já havia arroz cultivado antes da chegada dos portugueses. Mas os índios brasileiros não davam muita bola para ele.
Como conta Câmara Cascudo, “sozinho, ele não fartava ninguém, como a farinha seca ou o milho cozido. A forma típica era o arroz cozido na água e sal, úmido, compacto, quase um pirão espesso. O arroz solto, seco, aparecendo nos hotéis e residências abastadas foi resultado de fórmula posterior, urbana, chegando ao ‘arroz de branco’, elementar mas exigindo cuidados na fervura e atenções no ponto”.
Primeiro, então, veio a aproximação por afinidade – ambos, sozinhos, passavam a sensação de que faltava alguma coisa. Com o passar dos anos, descobriu-se que, associado aos cereais, o feijão fornece um suprimento ideal de carboidratos, fibras e, sobretudo, de proteínas. Segundo a nutricionista Patrícia Bertolucci, a mistura potencializa a síntese de proteínas essenciais para a reparação e construção de tecidos e para a produção de hormônios. Ou seja, com o tempo, descobriu-se que havia uma “química” poderosa nessa união.
Pelo lado nutricional, o arroz desintoxica o organismo. O feijão previne doenças do coração e até alguns tipos de câncer.Tradições orientais ligam o feijão à fertilidade e o arroz à fartura. Mas aqui no Brasil, nos tempos de colônia, era comida de escravos e gente pobre. Pero Vaz de Caminha relatou que o arroz fora trazido para cá pelos portugueses, e logo se juntou ao “cumandá”, o feijão dos tupinambás. Os negros misturaram tudo, dando origem à feijoada. As partes de porcos não aproveitadas nas mesas nobres iam para os escravos.
Feijões que expulsam demônios e o “Deus Arroz”. Parceria de longa data no mundo oriental.
Em uma noite, no começo da primavera, uma senhora japonesa caminha por sua casa, com punhados de feijões tostados em grelha nas mãos. Ela espalha os feijões por todos os aposentos, gritando para as forças do mal:
“Demônios, fora! Felicidade dentro!”
É um ritual de expulsão de maus espíritos do lar. Esta cerimônia também é destinada à prosperidade, fortalece magicamente o plantio do arroz, outro alimento sagrado japonês. Tão sagrado no oriente que existe até uma deidade só para ele: o Deus Arroz.
Bem depois desse histórico achado sobre o feijão e o arroz, nada mais justo que seguir deixando umas receitinhas, nada muito difícil e sacrificante, a não ser comer. Abraços em todos.
Baião de Dois
Ingredientes:
1 xícara de chá de feijão
1 xícara de chá de arroz lavado e seco
2 colheres de sopa de toucinho defumado picado
2 colheres de sopa de óleo de milho
250g de lingüiça cortada em rodelas finas
2 dentes de alho amassados
1 xícara de chá de queijo branco cortado em cubos
Salsinha
Modo de preparo:
Cozinhe o feijão por 30 minutos. Frite o toucinho no óleo de milho, junte a lingüiça e o alho e deixe dourar. Junte o feijão com o caldo de cozimento, o arroz. Cozinhe até secar e o arroz estiver macio. Junte o queijo e mexa bem, ele deve ficar úmido. Salpique a salsinha e sirva em seguida. Rendimento: de 6 a 8 porções.
Tutu à mineira
Ingredientes:
½ kg de feijão cozido com caldo
1 ovo cozido
100g linguiça
200g de farinha de milho
1 concha de alho batido com óleo vegetal
cebola, cebolinha, salsinha e cheiro verde
sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo:
Depois de preparar o feijão, bata-o no liquidificador e reserve. Em uma panela de ferro, refogue o alho com a farinha de milho, coloque o sal e a pimenta do reino. Depois, adicione aos poucos o feijão batido até ficar com a consistência de um purê. Deixe em fogo brando de 30 a 40 minutos.
Em outra panela, refogue linguiça, cebola, cebolinha, salsinha e cheiro verde. Em uma travessa, disponha o tutu e, sobre ele, o ovo cozido em fatias, a linguiça, a cebola, a cebolinha, a salsinha e o cheiro verde.
Rendimento: 10 porções
Pesquisas:pt.wikipedia.org/wiki/Feijão/arroz
eucomi.com.br
baiaodedois.com
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Adoro o blog, Alexandre. As histórias, ao menos, já que não cozinho nada (mas faço um café espresso bem bom até!). Virei freguesa e, quem sabe não me arrisco um dia? pedir uma receita? Posso exagerar? Adoro a Torta Saint-Honoré!
ResponderExcluir(Acantha)
Adorei! É importante que se divulgue que nossa comida também tem História!!! Bela iniciativa. Parabéns.
ResponderExcluirOlá queridas, prontamente lhes responderei, espero poder agradar a altura, um grande abraço em vós. Alexandre.
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